Medicina Esportiva

Habilidades Abertas e Habilidades Fechadas

 Algumas semanas atrás, procurou-me uma atleta com 31 anos, que treina BMX (Mountain-Bike) há alguns anos e que havia participado da última Expedição da Mata Atlântica.

Embora não fosse uma atleta de elite na modalidade, sua equipe (três atletas - dois homens e uma mulher), conseguiu alcançar o oitavo colocado na classificação geral. Apesar de muito feliz por tal façanha, procurou-me na semana seguinte, pois estava sentindo dores nas articulações dos joelhos, tornozelos e músculos adutores da coxa.

A principal observação dela é que apesar de ter terminado a prova tão bem quanto os demais, notará que a recuperação de seus companheiros estava sendo bem melhor que a sua.

O que poderia estar ocorrendo ?

Analisemos a situação.

Podemos classificar as atividades físicas em dois tipos de acordo com os movimentos biomecânicos e padrão neuromotor: "atividades físicas de habilidade fechada" e "atividades físicas de habilidade aberta".

Na primeira situação (fechada), a atividade fisica é executada por movimentos biomecânicos repetitivos e previsíveis, como por exemplo: correr, nadar, pedalar, remar, etc.

Na segunda situação (aberta), o padrão de movimentos biomecânicos é totalmente variável, dependendo da imprevisibilidade do momento a ser executado, a contração e o movimento articular, forçando assim algumas estruturas como cápsulas, ligamentos e articulações.

Essas estruturas, podem não estar suficientemente fortalecidas, caso o atleta anteriormente tenha praticado apenas exercicios de habilidades fechadas ou apenas os de habilidades abertas.

Em uma prova como a Expedição da Mata Atlântica, onde neste ano os esportes praticados foram tanto os de habilidades fechadas (remo, treking, bike) como os de habilidades abertas (bóia cross, rapel, alpinismo), era de se esperar que o atleta acostumado a exercícios de habilidade fechada, mesmo tendo um bom condicionamento cardio-vascular e psicológico para suportar a prova, com relação a algumas estruturas esqueléticas, tivesse um período de recuperação mais dolorosas.

Estas estruturas, levam mais tempo para responder ao princípio do treinamento (sobrecarga, repouso, sobrecarga, repouso,...), sendo aconselhável aos atletas que não praticam "modalidades abertas", façam um treinamento preparatório (em torno de 2 ou 3 meses), exercitando o padrão neuromotor e fortalecendo as estruturas estáticas estabilizadoras das articulações (cápsulas, ligamentos), assim como as fáscias e inserções musculares.

Concluindo: hoje, como atleta praticante e médico que tem acompanhado inúmeros casos de esportista em geral, principalmente corredores maratonista e ultra-maratonistas, acredito que o condicionamento físico é mais adequado, quando praticado com "atividades fechadas" intercaladas com as "abertas", gerando um padrão biomecânico e neuromotor amplo.

Converse com seu treinador e peça a ele para por em prática a teoria, vocês verão que os resultados serão compensadores.

Finalizando: além do treinamento específico, vamos aproveitar os movimentos diários como, amarrar os sapatos, levantar da cadeira, alcançar algo na estante de cima, trocar uma lâmpada, carregar um peso, etc., para melhorarmos nossas atividades abertas.

Só mais um lembrete:

"RESPEITE SEMPRE A ESPECIFICIDADE DA PLANILHA DO TREINADOR".

Dr. Milton Mizumoto.

 

RESPIRAÇÃO - ENERGIA VITAL

Hoje em dia, milhões de pessoas respiram superficialmente, enfraquecendo os músculos do tórax, diafragma e costas.

Há duas fontes principais de energia à nossa disposição: os alimentos que ingerimos e o ar que respiramos.

A respiração ocorre como resultado de um esforço muscular, recebendo oxigênio fresco e livrando-se do gás carbônico e da água.

Nós inspiramos e expiramos cerca de 16 vezes por minuto, absorvendo uma média de 1/2 litro de ar de cada vez. Essa quantidade pode ser aumentada quando necessário, principalmente quando praticamos uma atividade física.

O oxigênio entra no sangue e o dióxido de carbono passa para os pulmões, antes que o ar seja expirado.

A respiração profunda e ritmada é um sinal de descontração e também um sinal de saúde e bem-estar.

Quais os benefícios de uma respiração controlada e profunda?

Limpar os pulmões dos produtos residuais do sangue desoxigenado

Utilizar de forma contínua os vários músculos do tórax, diafragma e costas

Qual a forma correta de respirar?

A respiração adequada faz-se pelo nariz, o que significa que o ar é filtrado e aquecido antes de alcançar os pulmões.

Como relaxar com uma respiração natural e profunda?

Este é um dos mais simples e gratificantes exercícios de relaxamento que você pode fazer, quando estiver tenso, cansado, antes de se levantar ou mesmo antes de dormir.

Deite-se no chão (superfície plana) e estique-se lentamente. Mantenha as pernas e os braços afastados do corpo e as palmas voltadas para cima. Imagine por um momento algo agradável e tranqüilizante (as ondas do mar, uma música, um jardim com flores).

Sinta o ar em cada inspiração entrar pelo nariz levando pureza, energia e saúde para dentro de você até o abdome. Ao expirar pela boca, você sentirá o relaxamento total do corpo.

Deixe cada respiração tornar-se mais profunda e lenta.

Repita este exercício 10 vezes, 2 vezes ao dia.  

American College of Sports Medicine – Seattle – maio 1999

 

Magnésio : O 12º elemento

Metal de transição na tabela periódica dos átomos, esse mineral é tão importante que não conseguiriamos sobreviver sem ele.

Como o oxigênio, nos fornece energia oxidando os carboidratos, gorduras e proteinas.

O magnésio, faz parte de mais de 300 reações enzimáticas que ocorrem no nosso corpo, incluindo a reação básica de fornecimento de energia através da oxidação da glicose pela enzima piruvato-quinase, este mineral é essencial para que ocorra tal processo.

Como ilustração, vejam abaixo, um caso real em deficiência adquirida de magnésio.

Corredor com mais de 40 anos de idade, hábitos alimentares irregulares baseados em carboidratos, proteínas, gorduras e frutas, resolve depois de 17 maratonas, treinar para participar de uma ultra-maratona com distância de 90 km. Lembramos que, a maratona tem 42,195mts., e esta era a prova que esse paciente tinha experiência.

Após vários exames laboratoriais (mais de 40) e checagem da avaliação física, começou a treinar intensivamente, inclusive com longões de final de semana com 40, 50 e 60 km., hidratando com água e refrigerantes a base de cola, tal qual seria a hidratação na prova.

Nos exames preliminares à prova, detectou-se uma hipertensão de repouso que agravou-se durante o teste de esforço. Como estava próximo a prova, imaginou-se ser estresse, porém, após ter completado a prova, a hipertensão piorou.

Embora tivessemos introduzido a terapeutica medicamentosa anti-hipertensiva, o paciente não se conformava com tal situação, pois antes dos treinos não era hipertenso.

Certamente, algo ocorrera de errado durante os meses que antecederam a prova...

Após várias indagações e pesquisas, conseguiu-se revendo atentamente todos os exames laboratoriais, em especial o "mineralograma capilar", detectar um deficit marginal de magnésio. Problema detectado, conseguimos ceder a hipertensão arterial com terapêutica nutricional, sem ter que retirar o sal dos alimentos, que seria o tratamento convencional, mas sim, suplementando a alimentação com magnésio.

Vejamos então :

Consequências imediatas :

Nota: - O magnésio é atuante em mais de 300 reações enzimáticas que ocorrem no nosso metabolismo, e também atua na excitabilidade neuronal e muscular.

Concluindo:

A medida que os treinos tornam-se mais volumosos, é imperativo para salvaguardar a integridade física e mental do atleta o acompanhamento mais minuncioso, tanto na parte de treinamento, como da nutricional e médica.

"A sua saúde é o seu maior bem".

Milton Mizumoto - Médico, ultramaratonista, é membro da Associação de Nutrologia, da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte e da Associação Brasileira de Estudo de Obesidade.